Antes de começar o estudo da Natureza dos seres vivos, convém considerar rapidamente a natureza da própria ciência; isso nos dirá alguma coisa acerca dos métodos que usaremos em nossas observações. A Ciência é um modo de buscar princípios de ordem no mundo natural. A arte é outro modo, e a Religião, ainda outro. A Ciência tem dois componentes separados: (1) evidência objetiva, baseada em observação ou em experimento ou na combinação de ambos - os dados; (2) estruturação dos dados por meio do estabelecimento de conexões significativas entre eles. As grandes descobertas da Ciência não consistem na adição de novos fatos, mas na percepção de novas relações entre eles (...).
Isso não quer dizer que os fatos não sejam importantes. São os fatos que perduram, que passam de um pesquisador para outro, de uma geração para a seguinte. É por isso que os cientistas insistem na objetividade;em qualquer Ciência, as observações e os experimentos devem ser relatados de modo que possam ser repetidos e verificados, e devem ser repetidos e verificados, antes de os incorporamos ao conjunto do conhecimento. Os fatos são sólidos blocos de construção, os elementos estruturais, teimosos e concretos, com os quais são erigidas as teorias e contra os quais se desfalecem os sonhos.
A maioria dos textos, e este não faz exceção, tende a destacar o que hoje se conhece, mais do que o que não se conhece ou o modo pelo qual viemos a conhecer o que conhecemos. Essa tendência, embora compreensível, distorce, de algum modo, a natureza da Biologia e da Ciência em geral. A Ciência moderna não é um acúmulo estático de fatos organizados de certo modo, e sim um corpo, algo amorfo de conhecimentos que, além de crescer constantemente, desenvolvendo novos brotamentos e prolongamentos imprevisíveis, pode também mudar de repente toda sua forma ( como aconteceu com a Biologia a partir do século 19, com a aceitação da Teoria da Evolução). A Ciência é dinâmica, não estática. Consequentemente, não pode ser contida em compêndios, ou bibliotecas, ou centros de coleta de informações. Trata-se de um processo que ocorre na mente dos cientistas vivos.
Uma palavra final: não permita que nosso entusiasmo em contar a você tudo o que a Biologia descobriu o convença de que já se sabe de tudo. Muitas perguntas ainda estão sem respostas. mais importante, muitas boas perguntas ainda nem foram feitas. Talvez seja você o primeiro a fazê-las.
(Curtis, Helena. Biologia, 2ª edição, RJ. Guanabara Koogan, 1977)
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